(NT:
Esta entrevista foi feita no dia 1/1/2015 pelo russo Andrei Volkov para o site
sueco Operation Novorossiya com Rafael Lusvarghi, brasileiro que figurou nos
noticiários ao ser brutalizado pela polícia durante as manifestações de meados
de 2014, teve a imagem explorada ao ter a vida detalhadamente descoberta, e,
agora, encontra-se lutando na Nova Rússia contra a Junta de Kiev. Apesar de
introduções longas geralmente se fazerem necessárias, a entrevista é completa o
bastante.)
Andrei:
Poderia apresentar-se?
Lusvarghi:
Meu nome é Rafael Marques Lusvarghi, nasci em Jundiaí, perto de São Paulo,
no Brasil. Servi na Legião Estrangeira Francesa por alguns anos, e, de volta ao
Brasil, tornei-me um tenente na Polícia Montada. Sempre tive grande amor pela
Rússia, e é por isso que vivi lá por um tempo e aprendi cultura, língua e
história.
Andrei:
Dada a situação na Nova Rússia, como está se mantendo?
Lusvarghi:
Estou me mantendo bem. Sou um guerreiro profissional... (risos) E, com
meus camaradas aqui, formamos uma família de verdade. Então, apesar de todas as
dificuldades e dos sacrifícios, tudo tem ido bem.
Andrei: Você mencionou ter experiência militar, mas que tipo de vida você tinha
antes de se juntar a nossos camaradas na Nova Rússia, e o que o fez ir, em
primeiro lugar?
Lusvarghi: Antes de vir, eu trabalhava para a IBM em Campinas, e tinha trabalhos
extras como professor de língua estrangeira. Eu me envolvi por um tempo nas
manifestações brasileiras contra a corrupção e a maneira como prepararam a Copa
do Mundo em meu país. Quando o Maidan apareceu em Kiev, já estava interessado
em ajudar. Assim que a guerra estourou, com meu currículo militar, eu tinha
certeza que podia ajudar a terra que é a dos meus ancestrais. É uma honra poder
ajudar.
Andrei: Você tem planos de voltar para casa? Caso sim, como acha que seu país vai
recebê-lo quando chegar?
Lusvarghi: Tenho o desejo te ir para o Brasil para visitar minha família e meus
amigos. No entanto, planejo ficar aqui e criar minha própria família. Mas esta
guerra será longa, e prefiro viver o momento que sonhar com um futuro.
Não tenho dúvida que serei aclamado por alguns
como um herói. Por outros, como um criminoso. Meu governo, no entanto, é
bastante neutro, e não espero muitos problemas. Talvez alguma visita à Polícia
Federal para prestar depoimentos, mas nada além disso.
Andrei: Você fala russo? Caso contrário, como se comunica com seus camaradas
russófonos?
Lusvarghi: Falo russo. Comunicação não é um problema para mim.
Andrei: Caso você tenha, quais são suas visões políticas sobre a guerra na Nova
Rússia? E, caso tenham acontecido, que discussões você teve com os soldados com
os quais você serve?
Lusvarghi: Sou um grande fã de Aleksandr Dugin e das teorias políticas eurasianas.
Não são muito conhecidas por aqui. É bom lembrar que as pessoas com as quais
luto são de classes baixas, e carecem de educação formal. Mas gostaria de dizer
que eles têm elementos do socialismo e muitos sentimentos nacionalistas. Também
gostaria de dizer que eles são contra o trotskismo e contra a esquerda moderna.
Acreditam, assim como eu, que andam lado a lado com os oligarcas e os poderes
ocidentais que oprimem estas terras.
Andrei: Como falamos com o camarada (Victor) Lenta mais cedo, pouco foi
dito sobre o sofrimento dos civis novorrussos na mídia sueca. Muitos são
fortemente antirrussos, e a propaganda de guerra descarada contra a Rússia e
comumente vista em artigos nos jornais suecos. Você tem algo a dizer ao povo da
Suécia sobre a situação da população civil (no passado ou no presente) como um
resultado dos ataques em Donetsk ou em Lugansk?
Lusvarghi: Sim. Vi com meus próprios olhos o que aconteceu quando unidades mais
“politizadas” das forças ucranianas, como a Guarda Nacional e regimentos
mercenários e voluntários vieram a nossas terras. Eles fizeram limpeza étnica.
Vi crianças, mulheres e idosos mortos. Também, por causa do bloqueio, se não
fosse pela ajuda humanitária russa, a população civil estaria passando fome e
sem medicamentos.
Andrei: Em seu país, como as pessoas veem o conflito entre a OTAN e a Rússia, entre
a Ucrânia e a Nova Rússia? Há muitos que apoiam a Nova Rússia? Como se tem
noticiado o conflito, amigavelmente para com os EUA ou o contrário?
Lusvarghi: O governo brasileiro é neutro, mas a mídia é totalmente apoiadora da OTAN e
dos EUA. Ainda assim, penso que os brasileiros, em sua maioria, estejam
apoiando o povo de Donbass. Não necessariamente a Rússia, mas as pessoas daqui.
Também, por causa da Copa do Mundo, das eleições,
das manifestações e do escândalo de corrupção da PETROBRAS, a mídia brasileira
não tem coberto muito do que se passa aqui. Pelo menos é o que disse minha
família...
Andrei: Tem algo que você gostaria de dizer a nossa audiência sueca que está lendo
esta entrevista?
Lusvarghi: Gostaria de lembrar que as leis internacionais forçam que qualquer região
ou povo tem o direito de declarar sua independência unilateralmente, mesmo que seja contra a lei do governo
central que os controla. Assim fez Kosovo. Assim fez a América. Assim fizeram
muitos. Por que não o povo de Donbass? Por que o Ocidente apoia tais ações, e,
agora, abruptamente e sem argumentos, condena-as?
Andrei: Obrigado por conceder-nos um pouco de seu merecido tempo livre para
responder estas perguntas. Em nome de todos os meus camaradas suecos e da
Operation Novorossiya: Solidarity Donbass, desejo a você toda a sorte em empreendimentos
futuros. Espero falar com você de novo em breve!
Lusvarghi: Obrigado!
Mais uma coisa: diga aos suecos que deveriam
lembrar-se de seu passado pagão, lutando contra a opressão cristã e a conversão
forçada!
Andrei: Direi!
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